Você já sentiu que suas conquistas foram puro acaso e você nem é tão boa assim? Mesmo que suas clientes elogiem o seu trabalho, você sente que foi sorte? Apesar das conquistas, você se sente uma fraude e acha que a qualquer momento tudo vai desmoronar? Essa vozinha que sussurra essas dúvidas, pode indicar que você convive com a Síndrome da Impostora.
A Síndrome da Impostora (SI) é quando começamos a duvidar do nosso próprio valor, mesmo com provas claras de que estamos indo bem. A pessoa se sente incapaz de reconhecer o seu próprio sucesso e capacidade intelectual. Como se a qualquer momento todos fossem descobrir que ela é uma fraude e não merece as conquistas que têm. A SI começou a ser estudada em 1978, quando as psicólogas Pauline Clance e Suzanne Imes, da Universidade Estadual da Geórgia, pesquisaram 150 mulheres bem-sucedidas. O resultado surpreendeu: quanto mais reconhecimento essas mulheres tinham, mais inseguras se sentiam — como se não merecessem o próprio sucesso.
Gabriela, de 24 anos, é empreendedora no ramo da culinária. Apesar dos elogios diários aos seus pratos, da sua formação como gastrônoma e dos bons resultados em seu negócio, ela se sente insegura com certa frequência “eu vejo que tá tudo caminhando pra frente, mas na minha cabeça ainda falta muito e por esse motivo fica parecendo que não estou conseguindo nada. Aí acabo ficando frustrada, desanimada por achar que tá tudo parado”.
Na pesquisa “Acelerando o futuro das mulheres nos negócios”, produzida pela KPMG em 2020, 75% das entrevistadas relataram ter experimentado a síndrome da impostora em suas carreiras. Mulheres famosas e bem-sucedidas em todo o mundo, já declararam ter passado pela mesma situação:
Sheryl Sandberg
A ex-Diretora de Operações do Facebook admitiu se sentir como impostora algumas vezes ao longo da sua carreira. Ela disse em seu livro “Lean In” (em português: Faça Acontecer – Mulheres, Trabalho e a Vontade de Liderar) que quando era membro da sociedade de honra Phi Beta Kappa em Harvard “Toda vez que fazia uma prova, tinha certeza de que tinha ido mal. E toda vez que não me envergonhava — ou nem me destacava —, acreditava que tinha enganado todo mundo mais uma vez. Um dia, em breve, a farsa acabaria.”
Lady Gaga
A estrela pop americana revelou que “Às vezes, ainda me sinto como uma garota fracassada no ensino médio e preciso me recompor e dizer a mim mesma que sou uma superestrela todas as manhãs para poder passar por este dia e ser para meus fãs o que eles precisam que eu seja.”
Bruna Marquezine
Em entrevista à Vogue, a atriz brasileira declarou: “(…) Tenho a tendência de menosprezar todas as minhas conquistas, de achar que eu sempre preciso fazer algo mais relevante e me importar muito com uma validação externa, que normalmente é muito dura, né?”.
A síndrome da impostora costuma encontrar terreno fértil na vida de mulheres empreendedoras porque, além dos desafios de gerir um negócio, muitas carregam também a pressão de dar conta de vários papeis ao mesmo tempo: ser uma profissional excelente, cuidar da família, manter a casa em ordem, estar sempre disponível. É como se o sucesso só fosse válido se viesse acompanhado de sacrifício extremo — e, ainda assim, muitas vezes ele é questionado.
É importante destacar que a Síndrome da Impostora não nasce do nada, ela é alimentada por séculos de cultura que limitou o protagonismo feminino. Desde pequenas, muitas de nós fomos ensinadas a sermos discretas, a evitar “nos achar”. O sucesso feminino, durante muito tempo, foi visto com desconfiança, como se ambição fosse algo feio ou incompatível com a delicadeza esperada de uma mulher. Enquanto os homens são, desde cedo, incentivados a se arriscar e se autopromover, nós aprendemos a esperar reconhecimento externo, a duvidar da própria voz e a pedir licença até para ocupar espaços que conquistamos com muito esforço. Essas mensagens sutis (e às vezes nem tão sutis assim) acabam moldando a forma como percebemos nossas conquistas: em vez de orgulho, sentimos culpa ou medo de parecer presunçosas.
A falta de referências femininas em cargos de liderança e o machismo ainda presente em muitos ambientes de negócios contribuem para que essas mulheres sintam que precisam provar, o tempo todo, que são competentes. Some a isso o perfeccionismo, o medo de errar e a tendência a se comparar com outras empreendedoras nas redes sociais, e temos um cenário onde é fácil se sentir insuficiente. Mas vale lembrar: essa autocrítica excessiva não define sua capacidade e reconhecer isso já é um passo importante.
Sinais de que a impostora pode estar falando dentro de você
- Se incomoda quando é elogiada, achando que não merece;
- Acha que está “enganando as pessoas”;
- Se compara frequentemente com outras mulheres e se sente inferior;
- Apesar de estudar e se preparar, sente frequentemente que não está preparada o suficiente para iniciar novos projetos;
- Perfeccionismo (que pode ser paralisante, muitas vezes).
Mas, lembre-se: o diagnóstico deve ser feito por um profissional de saúde mental.
Esses sinais podem aparecer no cotidiano da empreendedora ao cobrar por um serviço, ao se comparar com concorrentes, ao se sentir desconfortável em reuniões e apresentações e mais uma gama imensa de cenários. Por isso, reconhecer e nomear o que você está sentindo é um passo importante para se conhecer melhor e liderar seu negócio com mais confiança.
Estratégias para Lidar com a Síndrome da Impostora
1. Confronte os pensamentos com dados reais
Alguns desses pensamentos são dissolvidos quando “mexemos”, como aquele açúcar no fundo do copo. Por isso, que tal mensurar o que pode ser analisado? Você pode fazer uma pesquisa de satisfação com seus clientes, conversar com quem acompanha o que você faz e pedir uma opinião sincera sobre o seu desempenho, ou ainda tentar olhar para o seu trabalho como se fosse de outra pessoa, com um olhar mais técnico e imparcial.
2. Tente mudar a perspectiva
Você pode transformar o “não sou boa o suficiente” em “estou aprendendo e evoluindo”. Comemore todas as suas conquistas ainda que você as considere pequenas.
3. Busque apoio no universo do empreendedorismo
Você não precisa carregar isso sozinha. Mentorias, redes de apoio e networking entre empreendedoras irão ser parte importante da sua jornada. O Projeto SebastianaS existe para auxiliar no seu aperfeiçoamento e na construção da melhor versão do seu melhor negócio.
4. Procure ajuda com profissionais de saúde mental
Psicólogos e psiquiatras podem ser parte importante na sua jornada de autoconhecimento, descobertas das suas potencialidades e resolução das crenças limitantes.
Exercício Prático
Construa o seu Mural de Conquistas. Pegue papel e caneta (ou bloco de notas) e escreva:
- 3 desafios que você superou no seu negócio
- 3 elogios de clientes que fizeram o seu dia
- 3 coisas que você aprendeu recentemente
Guarde isso e volte a ler todas as vezes que a impostora quiser dar as caras.
Vamos continuar essa conversa? Como você lida com a voz da impostora dentro de você?